Nova legislação busca derrubar barreiras e promover a inserção de indivíduos com TEA no meio profissional

O Senado Federal deu um passo importante em direção à inclusão ao aprovar, em 28 de agosto, uma lei que concede incentivos fiscais para empresas que contratem pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O objetivo da medida é aumentar as oportunidades de trabalho para esse grupo, superando preconceitos e criando novas possibilidades para a população autista no mercado.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2 milhões de brasileiros apresentam algum grau de autismo, muitos dos quais ainda enfrentam grandes desafios para ingressar no mercado de trabalho. O TEA pode se manifestar de diversas maneiras, desde dificuldades leves de interação social e comunicação até casos que demandam maior suporte no cotidiano. A nova legislação se apresenta como um avanço significativo na proteção de direitos e inclusão de um grupo historicamente excluído.

Para a psicóloga e professora da Universidade Tiradentes (Unit), Jamile Santana Teles, pessoas com autismo podem ter excelente desempenho no trabalho quando bem orientadas. “Indivíduos com TEA frequentemente possuem habilidades acima da média em áreas específicas, como um forte foco, detalhismo e eficiência no cumprimento de prazos. Eles tendem a ser muito organizados e a seguir rotinas com precisão”, afirma.

Níveis de apoio

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o TEA é classificado em três níveis de suporte. O nível 1 é o mais leve, no qual a pessoa tem algumas dificuldades de interação social, mas consegue se adaptar bem a mudanças de rotina. No nível 2, há maior necessidade de suporte, com desafios mais acentuados em comunicação e socialização. Já o nível 3 requer apoio intenso, devido a dificuldades severas em interações verbais e não verbais.

“A inclusão requer a desconstrução de um sistema que discrimina e uma transformação cultural na sociedade. Discutir a inclusão no ambiente de trabalho é essencial para garantir oportunidades às pessoas com autismo. A transição para a vida adulta envolve alcançar independência, o que passa, entre outros fatores, pela conquista da autonomia financeira. Com emprego, a pessoa autista ganha motivação, autoestima, independência e uma melhor qualidade de vida”, reforça Jamile.

Vantagens da inclusão

A entrada no mercado de trabalho não só promove a inclusão social, como também melhora a qualidade de vida de pessoas com TEA. Jamile aponta que trabalhar pode elevar a autoestima e proporcionar independência financeira, ambos fundamentais para a autonomia. “Dessa forma, a pessoa com autismo pode adquirir mais autonomia e autoestima, além de conquistar uma vida mais plena e motivada”, diz a psicóloga.

Além disso, Jamile destaca que a inclusão no trabalho pode transformar a sociedade, que precisa se libertar de preconceitos e estigmas em torno do autismo. "É essencial eliminar o preconceito e a discriminação", argumenta.

Preparando o mercado

Apesar do avanço representado pela nova lei, Jamile alerta que o mercado de trabalho ainda não está completamente preparado para acolher pessoas com TEA. A adaptação de ambientes e equipes para promover a inclusão de profissionais autistas exige um esforço coletivo. Ela sugere que as empresas realizem treinamentos para capacitar seus funcionários a lidar com as particularidades do autismo. "É importante disseminar informações corretas sobre o TEA. Além disso, é necessário fazer ajustes no ambiente físico, como reduzir ruídos, ajustar a iluminação e criar espaços de descanso para os autistas que precisem de momentos de isolamento", recomenda Jamile.

Embora a lei seja um avanço para a inclusão, a psicóloga defende que a verdadeira integração só ocorrerá quando a sociedade começar a valorizar as habilidades das pessoas com TEA, ao invés de focar em suas limitações. "O mais importante é que as empresas passem a olhar para as capacidades que esses profissionais podem trazer, em vez de se concentrarem nas dificuldades", conclui.

Impacto da nova lei

A aprovação da lei é um passo crucial para uma sociedade mais inclusiva e diversificada, mas representa apenas o início de um longo caminho. Jamile ressalta que leis como essa são fundamentais para combater o preconceito e abrir espaço para uma maior inclusão de pessoas com TEA. “Essa medida aprovada no Senado demonstra um compromisso crescente do Brasil com a inclusão dos autistas no mercado de trabalho, oferecendo novas oportunidades para milhões de brasileiros que buscam não só uma ocupação, mas também reconhecimento e participação plena na sociedade”, finaliza a psicóloga.

Laís Marques

Fonte: Asscom Unit